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terça-feira, 18 de novembro de 2014

Crônicas Espíritas

CRÔNICAS ESPÍRITAS – 2

17/11/2014 07:54
A crônica espírita de hoje volta a sua atenção para o egoísmo, um sentimento que sentimento que, quando contido em justos limites, é bom em si.
Contudo, segundo Kardec, a sua exageração é que o torna mau e pernicioso.
Partindo da mensagem de Paulo de que “tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”, necessário se faz a reflexão da moral, nossa moral.
Ótima leitura para todos.


CRÔNICAS ESPÍRITAS – 2


Retomando o tema, observo que não é mesmo fácil a apreciação do egoísmo. Segundo Kardec há uma explicação da origem do mesmo. Na minha interpretação, quis dizer que, como fomos criados espíritos simples e ignorantes, e com o instinto de conservação, é o abuso desse instinto que nos leva ao egoísmo e orgulho (soberba). Mas Kardec não facilita muito as coisas quando se refere ao sentimento: “Este sentimento contido em justos limites é bom em si; a sua exageração é que o torna mau e pernicioso”.
O instinto de conservação vem acompanhado do sentimento de autopreservação. E aí vem a questão moral do meu interesse em detrimento do interesse alheio, mas e se esse alheio for moralmente condenável?
Portanto não dá para ser simplista em relação ao tema. 
Uma autora e filósofa de origem judaico-russa, radicada nos Estados Unidos, Ayn Rand, colocou “lenha na fogueira”, ao colocar o egoísmo como praticamente uma virtude, que seria a de preocupar-se com os nossos próprios interesses. Criou uma corrente filosófica, o Objetivismo, em que a mente racional tem uma supremacia absoluta. Mas, apesar de todo racionalismo, diz que o homem deve buscar a sua própria felicidade, sendo ele mesmo o responsável por ela.
Ela via o altruísmo de outro modo, quase inexistente, ou apenas como uma escolha, um sacrifício em detrimento de outrem.
Polêmica e por vezes paradoxal, sua teoria prega uma liberdade individual que não deve invadir o limite do outro, o que concordo, além de esclarecer que muitos tiranos utilizam-se de um pseudo-altruísmo para manobrar pessoas. Essa tirania política ou religiosa, apregoa o sacrifício dos comandados por um “bem maior”, sem, contudo, eles mesmos envolverem-se em situações de risco maior, salvo poucas exceções. 
Muitas de suas teorias foram utilizadas pelo capitalismo, isto é, as partes que agradavam aos objetivos deste sistema. Observo que isto é feito com outros filósofos, a exemplo de Nietzsche, que teve parte de seus textos usados pelo nazismo, muitos fora do contexto.
Mas não é apenas a filosofia que sofre com isto, pois vemos que muitos textos religiosos têm seus significados pervertidos, truncados por dificuldades de tradução ou por simples desejo de manipulação. Encontrar num livro religioso, uma frase, um trecho, que justifique os seus objetivos, é um perigo quando estes objetivos são escusos e egoístas.
Como o Espiritismo é baseado num tripé que inclui Religião, Filosofia e Ciência, a questão Moral é relevante. E se não soubermos o que é o bem e o mau, sem muitos relativismos, não teremos como construir uma base moral sólida.
Quando meu instinto de conservação não invadir, de modo ilegítimo, a integridade de outro ser humano, em todos os seus níveis, estarei dentro dos parâmetros cristãos. E a moralidade aí está, não faço porque não posso e sim porque não devo. Lembro-me do Paulo de Tarso: “tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”.
E o que é conveniente para mim, está na minha escala moral interna, que deverá ir se aprimorando com a evolução. E, quanto melhor estiver moralmente, mais a minha conveniência estará a convergir com o bem-estar alheio, não apenas o dos mais próximos e sim da humanidade.
Contrariando alguns, não evoluímos sozinhos, pois se este fosse o caso, cada espírito moraria num pequeno asteroide. Muitos egocêntricos pensam serem sóis centrais, e querem as pessoas gravitando em torno de seus interesses. Manipuladores hábeis, distorcem as situações e são rápidos em adjetivar de egoístas àqueles que contrariam aos seus interesses.
Levei um tempo para aprender a lidar com pessoas assim e identificar os dardos espelhados por elas lançados. Não fico mais com o orgulho ferido, desejando disparar outro dardo de volta. Aprendi que o suposto dardo e venenos lançados são proporcionais à importância que damos à eles.
Preservar-se do mal é um processo, do mal alheio e do interior. Vencer o egoísmo é uma luta incessante, pelo menos ainda para mim, pois seus disfarces são múltiplos.
Lembrar de quem somos de verdade, filhos do Universo, governados por Jesus, nos apazigua e liberta.
Evoluir é trazer a consciência de vigília as leis morais perenes insculpidas no nossa psique (consciência-subconsciência-inconsciente) quando da criação do espírito, e ainda que simples e ignorante, carrega o Espírito Universal, a chama do Criador, da fonte do Amor e da Vida.

Mais um trecho de Allan Kardek, para nossa reflexão: “ Egoísmo e Orgulho: Causas, Efeitos e Meios de Destruí-los”, de Obras Póstumas, grifos nossos.
“ Não há exemplos de uma pessoa dotada de natureza generosa, em quem o sentimento do amor ao próximo, da humildade, do devotamento e da abnegação, parece inato?
O número é inferior ao dos egoístas, bem o sabemos, e se assim não fora, estes não fariam a lei; mas não é tão reduzido, como pensam, e se parece menor é porque a virtude, sempre modesta, se oculta na sombra, ao passo que o orgulho se põe em evidência.
Se pois o egoísmo e o orgulho fossem condições de vida, como a nutrição, então, sim, não haveria exceção.
O essencial portanto é fazer que a exceção passe a ser regra e para isso incumbe destruir as causas produtoras do mal. A principal é, evidentemente, a falsa idéia, que faz o homem da sua natureza, do seu passado e do seu futuro.
Não sabe donde vem, julga-se mais do que é; não sabendo para onde vai, concentra todos os pensamentos na vida terrestre. Deseja viver o mais agradavelmente possível, procurando a realização de todas as satisfações, de todos os gozos.
É por isso que investe contra o vizinho, se este lhe opõe obstáculo; então entende dever dominar, porque a igualdade daria aos outros o direito que ele quer só para si, a fraternidade lhe imporia sacrifícios em detrimento do próprio bem-estar, e a liberdade, deseja-a só para si, não concedendo a outrem senão o que não fira as prerrogativas. Se todos têm essas pretensões, hão de surgir perpétuos conflitos, que farão comprar bem caro o pouco gozo, que conseguem fruir.
Se porém erguerem os olhos para onde a felicidade não pode ser perturbada por ninguém, nenhum interesse alheio precisa de ser debelado e, conseguintemente, não há razão de ser para o egoísmo, embora subsista o estimulante do orgulho.
A causa do orgulho está na crença, que o homem tem, da sua superioridade individual, e aqui se faz ainda sentir a influência da concentração do pensamento nas coisas da vida terrestre.”


Segue um pequeno filme com entrevistas da autora Ayn Rand, vale a pena ver.
Muita PAZ para todos nós.
Francesca Freitas

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